A dificílima arte de ajudar o próximo

p.2Aos 13 anos de idade, após a leitura de um romance sobre a vida de meninos que viviam abandonados em uma praia em Salvador, resolvi que quando crescesse  trabalharia para ajudar crianças em situações semelhantes àquela. De lá pra cá, muita coisa mudou na minha vida, mas o desejo permaneceu.

Descobri, nessa caminhada, pelo menos dois grandes obstáculos trabalhando contra o meu desejo de ajudar os outros: o egoísmo e a arrogância. O egoísmo me incentiva sempre a proteger o meu espaço, a minha família, o meu tempo e os meus bens. Para vencê-lo procuro lembrar as palavras de Jesus citadas por Paulo: “Mais bem-aventurado é dar que receber” (At 20.35).

Já a arrogância… ah, esta é pior. Ela me convence de que sei exatamente o que aquela pessoa precisa. “É claro que a dona Luiza precisa de roupas e cesta básica.” Nem passa pela minha cabeça perguntar, e assim ela não tem a chance de dizer que gostaria muito que eu ajudasse seu filho com uma prova de inglês que terá na escola. É essa arrogância que não me permite perceber que a nossa relação se transforma à medida que a trato como uma pessoa “carente” e não como uma irmã em Cristo, na qual habita o Espírito Santo e a quem ela ouve e obedece (talvez muito mais do que eu).

Contra a arrogância é necessário o arrependimento, a descoberta de que também preciso de   ajuda e o reconhecimento de que a generosidade humana é uma via de mão dupla. Da mesma forma como é importante ter o privilégio de ajudar hoje, é importante para a pessoa ajudada poder retribuir lá na frente. “Quem dá a beber, será dessedentado”, diz o Provérbio (11.25). É assim que construímos relacionamentos dignos.

A melhor forma de ajudar é aquela em que os que dão e os que recebem se relacionam em crescente admiração e respeito uns pelos outros. Eles vez por outra trocam de lugar e de papéis como se a vida fosse uma ciranda. O trabalho social focado no desenvolvimento comunitário favorece esse tipo de relacionamento e foi por isto que escolhemos o tema para a vigésima primeira edição de Mãos Dadas (nº 20)!

E por falar em Mãos Dadas, aqui cabe uma palavrinha sobre quem somos: somos mãos que dão de si para os outros, mas somos também mãos unidas que se apóiam mutuamente, somos via de mão dupla!

 

Autor(a): Elsie B. C. Gilbert, Editora da Rede Mãos Dadas.