A Grande Comissão e os dois grandes mandamentos

A Grande Comissão só pode ser cumprida se obedecermos aos dois grandes mandamentos. Da mesma forma, para observarmos os dois grandes mandamentos (amar a Deus e amar ao próximo como a nós mesmos), somos obrigados a nos engajar na Grande Comissão.

Aprendendo com Jesus
Na Grande Comissão (Mt 28.18-20), Jesus delega a seus seguidores a tarefa de irem e fazerem discípulos de todas as nações, ensinando-os a guardar todos os ensinamentos de Jesus. O imperativo nesta passagem é “fazer discípulos”. Naturalmente, isto significaria que seus seguidores ensinariam tudo o que tinham aprendido com Jesus.
Um breve exame do livro de Mateus mostra que uma boa parte do que os discípulos viram, ouviram e receberam como ensino envolvia o que hoje chamamos de ação social. No começo do Evangelho, Mateus faz um resumo do ministério de Jesus: “Jesus foi por toda a Galiléia, ensinando nas sinagogas deles, pregando as boas novas do reino e curando todas as enfermidades e doenças entre o povo” (Mt 4.23). É importante perceber que Jesus não só falava com as pessoas, mas também as tocava, curando-as.
Mais adiante, Jesus diz que os dois maiores mandamentos são amar “o Senhor, o seu Deus de todo o seu coração, de toda a sua alma e de todo o seu entendimento” e “o seu próximo como a si mesmo” (Mt 22.37, 40). Deus quer que o amemos com todo o nosso ser, não só com a nossa mente. Sim, Deus valoriza o ser humano por inteiro.

O segundo grande mandamento
O segundo grande mandamento supõe que eu ame a mim mesmo. O amor próprio, com certeza, inclui a reconciliação com Deus (evangelismo, discipulado). Mas não para aí, na esfera espiritual. Inclui também o cuidado que tenho com o corpo ao me alimentar, providenciar moradia, cuidar da saúde, buscar uma boa educação ou trabalho.
É inegável que o amor a mim mesmo inclui o cuidado do corpo. Basta examinarmos como gastamos o nosso tempo, dinheiro e energia. Mesmo os que julgamos serem os mais espirituais se preocupam com alimento, moradia, saúde e educação, bem como tempo para comunhão com Deus, oração e envolvimento na igreja. Via de regra, gastamos mais tempo e energia nos primeiros cinco ítens listados do que em momentos devocionais ou atividades eclesiásticas. É natural que façamos assim.
Portanto, o amor pelos mais necessitados deve incluir tempo, ajudando-os a conquistar de forma digna suas necessidades básicas, como alimentação, vestuário, moradia, saúde e educação.
Em Mateus 5, Jesus novamente se refere ao mandamento de amar o próximo como a si mesmo, mas dessa vez ele acrescenta que devemos amar nossos inimigos também para que sejamos perfeitos como o Pai. Ao explicar o amor do Pai, ele nos faz lembrar que o sol brilha para os maus e os bons, e que a chuva cai tanto sobre os justos como os injustos. A isso chamamos graça comum, e é por essa razão que, quando fazemos ação social, não saímos por aí procurando somente aqueles candidatos que “merecem” a nossa generosidade!

O exemplo da igreja primitiva
Nossa dívida de amor para com o próximo é mais que uma responsabilidade individual. Em Atos 6, a igreja nascente se deparou com a dificuldade de alimentar as viúvas. Os apóstolos escolheram então sete homens cheios do Espírito Santo e de sabedoria para servi-las “às mesas”.
O ministério com essas viúvas idosas era levado tão a sério na igreja primitiva que eles tiveram o cuidado especial de escolher os mais qualificados da comunidade para “servir às mesas”!
Desde o começo, os apóstolos perceberam que o Espírito Santo distribui dons diferentes ao seu povo. Todos os dons são importantes. Resultado: os apóstolos puderam dedicar mais tempo à palavra, e o impacto geral da igreja era tão sentido na comunidade que muitos sacerdotes judeus se converteram. O que levou os apóstolos a cuidar das viúvas foram os dois grandes mandamentos.
Hoje, em nossa tradição evangélica, talvez teríamos enviado os sete homens espirituais e sábios para evangelizar e plantar novas igrejas. Temos a tendência de valorizar dons relativos à pregação, ao ensino e ao evangelismo mais do que os dons ligados à misericórdia e à compaixão.
É difícil para nós reconhecermos que “servir às mesas” é uma responsabilidade no reino de Deus. Os apóstolos comissionaram os sete homens orando e impondo as mãos sobre eles. Quantas de nossas igrejas comissionam aqueles que desenvolvem ministérios na área de ação social? Qual foi a última vez que oramos com imposição de mãos pelos nossos agentes sociais?
Como seguidores de Cristo, recebemos a missão de ir e fazer discípulos de todas as nações, batizando-os e ensinando-os a amarem a Deus e ao próximo. Cabe à igreja enviar e apoiar cada um de nós de acordo com os dons que nos foram dados.
O amor pelo próximo sem a proclamação do evangelho tira-lhe o privilégio de participar ativamente como cidadão do reino de Deus (priva-o também de todos os privilégios de que os cidadãos do reino desfrutam). A proclamação sem o amor soa como “o címbalo que retine” (1 Co 13.1), ou seja, como uma buzina. Não convence, não transforma o coração.

Nota:
Todas as referências bíblicas foram retiradas da Nova Versão Internacional, da Sociedade Bíblica Internacional.

Autor: James B. Gilbert