A pessoa que eu admiro

O Davi sempre aparece lá em casa. Entra virando sempre o pescoço involuntariamente, gesto característico da seqüela que carrega. Gosta de conversar comigo: conta seus problemas e pede conselhos e orações.

Filho de Jackson e Selma, missionários da Missão Além, ele nasceu no período em que seus pais se preparavam para o campo missionário. Eles percebiam que havia algo errado com o bebê, porém os médicos não lhes davam diagnóstico algum. Então foram para seu primeiro campo missionário, entre o povo Deni, no Amazonas. Dois anos depois saíram para uma revisão médica, pois estava claro que o Davi tinha um problema sério.

Troféu de Deus
Só então tiveram o diagnóstico que temiam: Davi tinha sofrido uma paralisia cerebral provavelmente durante o parto.

Ainda em choque, os pais ouviram o conselho do médico: “Esqueçam essa vida no Amazonas. Fiquem numa cidade, pois ele vai precisar de tratamento diário e intensivo”. As perspectivas eram sombrias: era possível que o Davi nunca viesse a andar, falar, ir à escola, jogar bola…

Selma leu um artigo intitulado “Eles só Precisam de Amor” numa revista evangélica. No final da leitura ela orou: “Senhor, não temos condições de dar para o Davi tudo o de que ele precisa, mas amor nós temos. Vamos amá-lo muito e exibi-lo como um troféu dado por ti”.

Rompendo barreiras
Na verdade não sei quem eu admiro mais, se a mãe ou o filho. A mãe, submissa à vontade do Senhor e ao mesmo tempo determinada, teve disposição para romper todas as barreiras. O filho aceitou o desafio e se dispôs a lutar e enfrentar todas as limitações e dificuldades na coordenação motora e no aprendizado.

Davi conseguiu concluir a educação básica (ensinos fundamental e médio) com a ajuda da mãe e de uma professora particular. Aos 8 anos já era goleiro do time de futebol de sua turma. Não tinha medo de cair para pegar uma bola, pois era o que mais sabia fazer sem se machucar.

Aos 22 anos decidiu prestar vestibular para a faculdade de educação física em Anápolis e foi aprovado. Então foi morar sozinho, uma vez que seus pais não moravam naquela cidade.

Atualmente está terminando o curso de educação física. Continua aprendendo a viver, a estudar, a lutar por seus direitos e a ajudar outros portadores de necessidades especiais, com os quais ele faz questão de manter contato e amizade.

Outro dia ele me contou que convidou o Daniel, um amigo que também é portador de paralisia cerebral, para irem ao cinema. Andando pelo shopping logo depois, sentiram-se como ET’s. Mas ficou feliz, pois crê que é assim que a sociedade entenderá que eles são pessoas com os mesmos sentimentos e que também têm sonhos — são apenas diferentes em algumas necessidades especiais.

A fé que Davi tem em Deus é firme, e seu maior prazer é louvá-lo.

Se você deseja conversar com o Davi, escreva para pakargi@hotmail.com

Para conversar com sua mãe, Selma, escreva para jackson-selma_alem@wycliffe.org

Autor(a): Diva Bueno Cunha, serviu como missionária por 50 anos com a Missão Novas Tribos do Brasil.