Por Débora Vieira, psicóloga e editora da Rede Mãos Dadas
Cada vez mais o mês de maio tem sido palco de conversa sobre a vulnerabilidade da criança e do adolescente em relação a abusos sexuais. Escolas, projetos sociais e o governo brasileiro divulgam campanhas com o tema, procurando elevar sua urgência e importância. A igreja brasileira também têm sido despertada e, de diferentes modos, líderes cristãos procuram entender o que fazer nos casos em que menores sofrem algum tipo de violação. Mas parece que estamos bem no início desta longa estrada de proteção das crianças e adolescentes. Pois para falar de abuso sexual é preciso saber pensar e falar sobre sexo e sexualidade. E aí mora um problema.
Qualquer projeto cultural – música, rede social, série, filme… – tem a sexualidade como um dos pilares do entretenimento que traz engajamento e formação de pensamento. O acesso à pornografia só cresce como resposta a uma sociedade estressada, ansiosa, dependente de satisfação imediata e que cada vez menos sabe lidar com relacionamentos reais. Crianças e adolescentes esbarram na temática toda hora, acessando conteúdos e recebendo opiniões de amigos e formadores de opinião na internet que discursam sobre como se comportar e o que pensar sobre o sexo. E, diante dessa realidade, na hora de discipular, orientar e proteger os cordeiros de Jesus para saberem viver no meio dos lobos, o que a igreja normalmente sabe dizer sobre o tema é somente: “sexo fora do casamento é pecado.”
Sexo fora do casamento é pecado. Ponto. Claro que crianças e adolescentes devem ser ensinados sobre isso.
- Mas por que?
- E o que fazer diante de tantos estímulos sexuais – recebidos o tempo todo?
- E o turbilhão de hormônios?
- Cantoras e meninas repetem canções de sexo pesado sobre a mulher o tempo todo. E elas dizem gostar. É mesmo algo tão sério assim?
- Todos os meus amigos falam o tempo todo sobre isso, sobre o que vou conversar?
- Já vi muita coisa e fiz muita coisa, não sei se Deus me perdoa…
Esses exemplos de pensamentos são uma pequena amostra de que o sexo faz muito mais parte da vivência e do imaginário adolescente – e infantil – do que a igreja parece estar preparada para assimilar. Não que não devamos contar as histórias bíblicas domingo a domingo, falar da necessidade de salvação em Jesus domingo a domingo – para isso existimos! Mas essa fé ensinada precisa estar vinculada, entranhada, emaranhada às questões práticas da infância e adolescência. Caso contrário, ela não trará respostas para as dores e alegrias reais, emocionais ou físicas, que o corpo juvenil inevitavelmente acabará experimentando ao longo da vida.
A fé cristã precisa ter a ver com sexo. E ela tem.
Uma sexualidade desenvolvida debaixo da Graça do Criador requer instrução, como todas as áreas da nossa mente e coração precisam. Sexualidade diz respeito à identidade, desejo, disciplina, propósito, relacionamentos – e valor próprio. Diz respeito à intimidade, confiança para se mostrar vulnerável, certeza (ou não) de ser amado. E tanto mais! Se a igreja não falar sobre sexualidade e suas tantas questões estará desprotegendo crianças e deixando-as vulneráveis. Se a igreja não aprender a ouvir e orientar pais sobre a sexualidade dos filhos, estará corroborando com toda a mancha que o pecado coloca sobre essa área da vida, como se o tema em si fosse demonizado. E, de novo: não é somente sobre declarar o que é certo e errado, mas sobre a consciência do quanto temos que aprender a acolher nossa humanidade, que é afetada por nosso coração e desejo, e levá-la rendida aos pés da cruz. É sobre aprender a olhar para Jesus, que quis se fazer um de nós e lidou com o limite que a própria carne exercia sobre Ele enquanto esteve entre nós.
Vamos conseguir falar sobre proteção sexual na igreja quando soubermos falar de sexo com mais tranquilidade. De novo e mais uma vez: os mais novos já ouvem sobre isso toda hora. É preciso orientá-los, protegê-los e defendê-los. E para tanto, nada melhor do que a Verdade em amor! Que instrui, que liberta, que guia. Protege.
Cura.
Se você quer se aprofundar mais sobre o tema, temos alguns caminhos para sugerir para você:
1) Cartilhas de instrução sexual da Sociedade Bíblica do Brasil
2 ebooks no estilo mangá que instruem a criança e e o pré-adolescente sobre o tema. ACESSE AQUI.
2) Curso Claves sobre educação sexual
Curso para educadores. Dinâmicas e brincadeiras para crianças sobre o tema. SAIBA MAIS.
3) Palestra Online sobre educação sexual na igreja
Havendo demanda, elaboraremos um encontro online e gratuito com orientações práticas para o dia a dia da igreja. Preencha o formulário se houver interesse CLICANDO AQUI.
Fico esperançoso vendo este texto.
Que Deus mude o coração dos pais resistentes ao alerta e ensino. O momento requer oração e disposição para ganhar a atenção, e o coração das crianças, dos adolescentes.
Obrigada pelo comentário, Artur! Família e igreja, Corpo, em parceria no esforço de alcançar os pequenos corações!
Glórias a Deus por vocês abordarem este tema! É tão real e necessário, e realmente tão pouco explorado! Quero, como mãe, ter sabedoria de Deus pra orientar meu filho nesta parte de sexualidade! Obrigada por este alerta!
Sim, muito necessário, Edlayne. Glória a Deus por seu desejo, que o Senhor atenda pra glória Dele. Obrigada pelo comentário e incentivo!