Adolescentes, sim. Vulneráveis, também

Que é uma fase “turbulenta”, ninguém pode negar. Mas não é para menos. A adolescência é marcada por fortes transformações:
– físicas: os hormônios estão a todo vapor; há o estiramento do corpo e a mudança de voz no menino e a menstruação na menina;
– intelectuais: o adolescente passa a questionar as normas e as regras em vigor;
– sociais: cresce a importância da turma com quem o adolescente se identifica, diminuindo a importância dada à família;
– emocionais: ele sente a necessidade de se diferenciar, de buscar uma identidade própria, de se auto-afirmar. Por isso, o adolescente pensa que pode tudo, o que é, na verdade, uma forma de reagir aos medos, às angústias e ao sentimento de já não saber quem ele é.

Por tudo isso, a vida do adolescente e dos que o rodeiam está longe de ser tranqüila; haverá sempre uma tensão. Se por um lado, os pais e educadores têm o dever de colocar limites (que vão servir como referências); por outro, os adolescentes têm todo o direito de tentar ampliar esses limites.

Mas, tensão não significa guerra. Pode ser um período muito saudável, no qual, pelo exercício do respeito mútuo, pais e filhos ganham maturidade e o adolescente pode chegar ao que todos desejam: a autonomia – ser capaz de cuidar de si mesmo e relacionar-se bem com os outros.

Sabemos que essa conquista envolve um processo iniciado na infância, em que pais e educadores são responsáveis por criar um ambiente adequado ao desenvolvimento da autonomia na criança.

Na prática, criar esse ambiente significa proporcionar um lugar seguro, onde desde cedo a criança possa:
– errar;
– questionar;
– se opor à autoridade com respeito;
– aprender a fazer opções com responsabilidade.

Aos adultos educadores cabe:
– conter a vontade de fazer pela criança ou adolescente o que eles mesmos já são capazes de fazer;
– estabelecer regras desde a infância que assegurem os direitos e deveres de todos, de forma que as conseqüências de seus atos fiquem claras para o adolescente;
– transmitir para a criança ou adolescente sua visão de mundo. Para nós, cristãos, isto significa ensinar o adolescente a amar a Deus e a reconhecê-lo em todos os seus caminhos.

Adolescentes em situação de risco

Quando falamos de adolescentes em risco, estamos nos referindo aos que se encontram em uma posição de desvantagem social, privados das condições básicas para o seu desenvolvimento e sua inserção social.
Que esperança de maturidade e autonomia podem ter estes adolescentes cuja vida roubou-lhes o direito à infância? Que visão podem ter do mundo, quando seu corpo e alma estão marcados pela violência daqueles que deveriam amá-los e protegê-los?

O que fazer?

Tarefa difícil e que requer a nossa dependência de Deus. É preciso gastar muito tempo ensinando o adolescente a confiar de novo no outro. Esta tarefa exige o envolvimento de gente que trabalha com dedicação, que não espera o milagre acontecer, mas participa dele.

Nossa esperança está, principalmente, na certeza de que, se todos nós somos vulneráveis ao abandono, aos maus tratos, ao desamor, felizmente também somos vulneráveis a um ambiente de amor – ao amor que acolhe, cuida e cura.

 
Quer Ler Mais? Simone indica: “O Adolescente Por Ele Mesmo”, de Tânia Zagury (Editora Record).

 

Autor(a): Simone Lacerda, é terapeuta familiar, especialista em crianças e adolescentes e membro do Corpo de Psicólogos e Psiquiatras Cristãos (CPPC).