Por que o mundo não pode ficar sem os agentes sociais cristãos?
Resposta curta: porque sem nós o mundo seria um lugar muito mais sombrio. Como cristãos, acreditamos que o mundo “jaz no maligno” e que forças muito poderosas operam para “roubar, matar e destruir”.1 Acreditamos que vivemos em estado de guerra entre o bem e o mal. Não achamos que essas forças são apenas duas faces de uma mesma moeda ou que são forças iguais em poder e autoridade — não somos relativistas. Mal para nós é tudo o que está longe de Deus, do Pai das luzes. O mal um dia será extirpado, não existirá mais.
Acreditamos ainda que fomos criados com vocação para o bem. O nosso corpo, alma e espírito almejam a perfeição. E todo cristão tem fé que em Cristo podemos avançar rumo a uma existência harmônica com Deus em um ambiente onde reina a paz, a justiça e o amor.
Infelizmente alguns de nós desistiram de lutar por um mundo melhor, porque acham que isso só contecerá no céu e por obra exclusiva de Deus, sem a nossa participação. Outros acreditam que com o esforço humano é possível transformar este mundo estabelecendo assim o reino de Deus entre nós. As duas posições não representam uma visão ampla do que nos foi revelado na Bíblia. Só Deus sabe quando e como destruirá para sempre os poderes malignos que hoje operam no mundo. Ele é o autor dessa obra de redenção. No entanto, o maior privilégio de todo cristão é poder participar desse grande projeto que Deus está realizando na terra.
Faz parte da fé cristã o reconhecimento de dois atores de extrema importância na história da humanidade: Deus e o Diabo. O bem não é uma força cósmica, uma energia. Ele é uma pessoa que tem nome, vontade e inteligência, que se relaciona com os seres humanos. O mal não é apenas o somatório de erros, acidentes de
percurso, meras fatalidades. Por trás do mal há um inimigo, um opositor, que também tem nome (Diabo, Satanás, Lúcifer), vontade (usurpar o lugar de Deus) e inteligência. Não vamos nos iludir: seu alvo é a destruição dos seres humanos e de toda a ordem criada por Deus, e sua estratégia envolve a opressão das crianças. Quem mais sofre em uma guerra? O que as crianças em campos de refugiados, mutiladas por bombas, cujos pais se foram, estão aprendendo sobre o mundo, sobre os seres humanos e sobre Deus? Quantos terroristas mirins estão sendo formados agora mesmo e, em tempo, como consequência de sua grande dor, se transformarão em instrumentos de destruição e vingança nas mãos do Inimigo? As situações de grande opressão vividas pelas crianças facilitam o seu recrutamento para as forças do mal. Esse recrutamento é constante e sua propaganda extremamente convincente.
Nós, os agentes sociais cristãos, somos instrumentos usados por Deus para resgatar, transformar, re-orientar vidas cuja auto-destruição já estava programada. Lutamos na linha de frente da batalha, nos lugares onde a perversidade demoníaca é sufocante e o sofrimento humano causa náuseas na alma. Temos a audácia de, com nossas ações, proclamar o fim da guerra, a vitória certa, incontida e absoluta de Deus. Temos a coragem de declarar na cara do Inimigo que ele não tem o direito, nem o poder de dominar e destruir essa criança, aquele adolescente, ou aquela família. Sempre lembrando que, na cruz, Cristo venceu o maligno. Glória a Deus!
O que nós fazemos?
O dia-a-dia do agente social cristão é cheio de atividades que visam melhorar as condições de vida (saúde, educação, moradia etc) de crianças, de famílias, de comunidades. Temos de celebrar: no Brasil, levando em conta apenas ações voltadas para a criança, nossa atuação é ampla e plural. Temos milhares de cristãos envolvidos em:
– defesa de direitos e combate à violência doméstica;
– melhoria da educação básica e oferta de outras frentes de educação temática como meio-ambiente, cidadania, empreendedorismo;
– atenção a crianças em idade pré-escolar com creches e educação infantil;
– abrigo de crianças que moraram na rua ou cujo vínculo familiar foi perdido;
– ressocialização de adolescentes em conflito com a lei;
– reabilitação de dependentes de drogas;
– garantia de direitos para crianças portadoras do vírus da aids ou com necessidades especiais;
– cuidado espiritual de crianças em lugares de difícil acesso como em igrejas de periferias urbanas, no semi-árido nordestino, na selva amazônica etc.
A lista não se esgota aqui. Temos uma grande variedade de postos de trabalho que incluem profissionais de todas as áreas: administradores, advogados, agrônomos, artesãos, artistas de circo ou de teatro, artistas plásticos, assistentes sociais, compradores, conselheiros tutelares, contabilistas, contadores de histórias, coordenadores de programa, cozinheiros, dentistas, educadores, enfermeiros, evangelistas, facilitadores comunitários, faxineiros, intérpretes, jornalistas, médicos, missionários, motoristas, músicos, nutricionistas, pais sociais, pastores, professores, psicólogos, secretárias, telefonistas, tradutores, zeladores. Todos, do mais leigo ao mais especializado, são profissionais de grande importância na vida das crianças que atendem. Quanto mais próximos da criança, quanto maior o convívio, tanto maior a sua influência. Daí, a preocupação de Mãos Dadas em prover material de qualidade para todos.
O agente social cristão não se lança a campo só para melhorar as condições sócio-econômicas da criança, de sua família ou de sua comunidade. O objetivo é maior. Ele quer ver a criança se aproximar de Deus, crescendo em “sabedoria, estatura e graça” assim como o menino Jesus cresceu.2 Ele sabe que a solução para todo o conflito cósmico que vivemos está no coração do ser humano e que a maior escolha que cada criança, adolescente ou adulto terá de fazer é o querer ou não estar com Deus.
Quem somos?
Somos homens e mulheres de qualquer idade, classe social, raça, cor ou etnia, com histórias de vida muito diferentes, exibindo uma grande variedade de habilidades, conhecimentos técnicos e experiência profissional, mas que a despeito das nossas peculiaridades, limitações e diferenças, amamos a Deus e somos amados por ele. Estamos dispostos a obedecê-lo, fomos chamados e capacitados pelo Espírito Santo para demonstrar o seu amor em gestos de misericórdia, em ações de combate ao sofrimento humano, dando atenção especial aos problemas causados pela injustiça social. Somos amigos de Jesus. Seguimos os seus passos e nos apegamos às suas palavras: “Estas coisas vos tenho dito para que tenhais paz em mim. No mundo passais por aflições; mas tende bom ânimo; eu venci o mundo.”3 Sabemos que é ele quem intercede por nós diante do Pai e diz, “Não peço que os tires do mundo, e sim que os guardes do mal”.4 E sabemos que ele é fiel e cumprirá a sua palavra. Nesse caminho que ele escolheu para nós, serão muitas as oportunidades em que trabalhará o nosso caráter, nos aperfeiçoará e nos santificará. Ele promete nos manter juntinho de si, unidos a ele e portanto unidos com o Pai. É por isso que todos os agentes sociais contatados por telefone durante pesquisa para esta edição disseram a mesma coisa: “Cansados? Freqüentemente. Desanimados? Às vezes. Decididos a desistir? Nunca!”
1. 1 Jo 5.19; Jo 10.10
2. Lc 2.52
3. Jo 16.33
4. Jo 17.15