Comum, mas que faz diferença.

Edivaldo Pereira da Silva é daqueles que “sonham com os olhos bem abertos”. Sargento da Polícia Militar do Pará, 35 anos, casado, pai de três filhos e membro da Igreja Assembléia de Deus desde a infância, Edivaldo é um cidadão comum da pequena cidade paraense de 40 mil habitantes, Igarapé-Açu. Com um salário mensal de 800 reais, luta para manter as contas em dia.

A diferença é que o sargento Edivaldo descobriu que podia fazer mais do que já fazia. Descobriu que o trabalho mais importante da polícia é preventivo, e não punitivo; e, principalmente, que Deus “nos habilita para toda boa obra” (2 Tm 3.17).

O sonho era antigo. Queria fazer algo pelos adolescentes de famílias carentes que crescem sem saber o que é dignidade. Mas o que fazer?

Em 1991, Edivaldo foi aprovado no concurso da PM do Pará e foi trabalhar na cidade de Colares. Em alguns anos, sua habilidade especial para a música o fez passar de aluno a maestro da banda musical da corporação. E foi ensinando que percebeu que a maneira de ajudar os adolescentes passava pela educação.

Em 1999, iniciou o Projeto Guarda-Mirim, inspirado em modelos já existentes, por meio de um trabalho totalmente voluntário. A idéia era simples: ensinar adolescentes de 12 a 16 anos como serem bons cidadãos, sob o ritmo de um quartel. No projeto, eles praticavam educação física e aprendiam noções de cidadania, trânsito e primeiros socorros, além de ouvirem palestras sobre assuntos como drogas, prostituição e violência. O Estatuto da Criança e do Adolescente também era ensinado. “Com o ECA, os adolescentes descobriram que são importantes e merecem ser respeitados”, explica o sargento. Mas Edivaldo foi bem mais longe: tirou adolescentes da rua, mostrou companheirismo e revelou a eles o amor de Deus. Depois de um ano, 85 adolescentes já estavam recebendo o diploma de guardas-mirins e descobrindo o seu direito à dignidade. O projeto continua até hoje em Colares.

Em janeiro deste ano, Edivaldo foi transferido para Igarapé-Açu. Em maio, iniciou o mesmo projeto com o apoio total da prefeitura, que fornece uniforme, merenda, espaço físico e 10 reais por mês por adolescente atendido. Hoje, já há mais de 100 adolescentes sendo ajudados pelo projeto. Dentro de alguns meses, eles estarão prestando serviços à comunidade, como informações de trânsito e segurança em eventos especiais. Nazareno Nascimento da Silva, 13 anos, é um deles. Foi abandonado pelos pais com 7 anos. Após seis anos morando em casas de parentes, sem rumo certo, foi acolhido pelo projeto e provisoriamente está morando no próprio Quartel da Guarda-Mirim. “Se não fosse aqui, eu estaria nas drogas”, garante Nazareno.

O sargento Edivaldo continua sonhando: quer ampliar o projeto para outras cidades vizinhas, fundar uma banda de música da Guarda-Mirim e começar a ajudar também meninas. “Nunca é tarde pra gente conseguir nossos objetivos; tem que ter coragem para realizar os sonhos”, diz.

Em junho deste ano, ele recebeu da Assembléia Legislativa do Pará uma congratulação pelo trabalho realizado em Colares. No entanto, ele sabe que não é herói – e nem mesmo aparenta. É apenas um cidadão comum que resolveu fazer diferença.

Autor: Lissânder Dias, é editor web na Editora Ultimato.