Dia 6 Cuidado Pessoal

Dia 6: “Equilibrio emocional: sua falta pode nos levar ao fundo do poço”

 

Fazer algo bom não garante que o agente social esteja imune aos revezes da vida. A idéia de que é possível conviver diariamente com o sofrimento e a dor sem se deixar tocar por eles é como achar que você pode passar por um lamaçal sem se sujar. E no lamaçal pode acontecer de já não se conseguir avançar, ficar atolado.

Como pessoas dedicadas, capazes, sinceras no seu desejo de servir a Deus, vão parar no fundo do poço emocional? Vamos descobrir acompanhando Mara, uma educadora cristã muito entusiasmada e fiel.

Burnout: o fundo do poço

Mara está magoada com o pessoal do projeto. Antes ela era elogiada pela sua dedicação, pelo sacrifício, mas agora só recebe críticas e cobranças. Sente que nos onze anos de envolvimento integral no projeto, nunca teve tempo para si mesma, para os amigos para a família.

Os problemas na sua vida pessoal parecem ter-se multiplicado ultimamente. Mara se sente vazia, desgastada, sem nada a oferecer.

Nesse estado, Mara não está apenas sob os efeitos do estresse, a coisa ficou mais séria. Ela chegou ao que os especialistas têm chamado de síndrome do esgotamento profissional ou síndrome de burnout.

Se não houver prevenção, o estresse acumulado em dias, semanas, meses, anos, levarão Mara a uma completa exaustão emocional. Ela pode desenvolver problemas digestivos, insônia, dores, um estado depressivo e até ataques de pânico, entre outros.

É provável que evite se relacionar com as pessoas, que comece a se sentir uma observadora, alguém que olha de fora a situação. Seu sentimento de realização pessoal cairá de forma notável. Coisas que ela fazia com facilidade parecerão impossíveis.

O entusiasmo e a alegria que sentia se evaporarão. Tudo parecerá inútil, repetitivo, irritante. E este é um estado tão debilitante que provavelmente levará a um pedido de licença, ou até à saída de Mara da instituição.

É provável que a síndrome de burnout seja responsável pela grande rotatividade de profi ssionais ligados ao cuidado com pessoas em situações adversas, com o professores, enfermeiros, agentes penitenciários, policiais, atendentes de telemarketing que trabalham ouvindo as reclamações dos clientes. O dia promete ser muito longo.

A situação é ainda pior para quem trabalha com crianças que sofreram traumas importantes. Ao se identificar com o sofrimento do outro (da criança, de um adolescente, de sua mãe), o profissional acaba internalizando essa dor, vendo-a como sua.

Se o profissional não observar períodos de restauração pessoal, ele pode chegar ao ponto de passar a experimentar todos os sintomas emocionais e físicos  resultantes de um trauma, mesmo não tendo passado pela experiência traumatizante. A este fenômeno dá-se o nome de trauma secundário ou fadiga da compaixão.

Apenas um encontro com o sofrimento humano não surte esse efeito. Ele é produzido por um contato diário e plural (vários casos ao mesmo tempo) com a dor de pessoas inocentes diante da violência, do abuso, dos maus-tratos, da negligência e do descaso. E agora que Mara chegou ao fundo do poço, o que ela pode fazer?

Infelizmente muito pouco. O que levou Mara a esse poço foi acreditar que podia fazer tudo sozinha. O seu lema era “tudo posso naquele que me fortalece”. Mas há muito tempo ela deixara de lado o “aquele que me fortalece” e ficara apenas com o “tudo posso”. No momento, ela não pode nada.

A recuperação de Mara vai exigir um esforço coletivo: a compreensão da família, o apoio dos amigos, o amor incondicional da igreja, o respeito e tolerância da instituição.

Ela precisa ser encaminhada a algum profi ssional da área da saúde (médico, psicólogo) e ao cuidado pastoral. Mara está doente, e sua doença precisa ser levada a sério (tem direito inclusive a licença médica). E, finalmente, o que Mara mais precisa é saber que não está abandonada.

O poço pode dar início a um novo jeito de conduzir a vida, com os mesmos ideais de antes, mas com uma nova sabedoria. O fundo do poço pode ser escuro, contudo, lá ela pode achar água cristalina.

Por Elsie B. C. Gilbert
Origem: Revista Mãos Dadas. Edição 19

Para refletir: 

Você consegue identificar as ameaças que podem levar você a um Burnout?