Disciplina – para quem?

Muito embora essencial, disciplinar é algo arriscado. O risco está na intenção. Corremos o perigo de usar o recurso da disciplina pensando apenas em nós mesmos, porque queremos ser respeitados. O objetivo de disciplinar para treinar o caráter da criança e do adolescente fica em segundo plano. A disciplina passa a ser fundamentada em um egoísmo sutil, revestido de boas justificativas.

Quando um adolescente me desobedece, o que está em jogo não é meu sucesso como educador, mas a vida deste adolescente que ainda não aprendeu a valorizar e a respeitar o outro. Se o “outro” sou eu ou se é um colega da sala não importa. O fundamental é que o meu ato de disciplinar faça com que o disciplinado entenda que ele precisa respeitar, dar a importância devida às outras pessoas, inclusive ao seu professor. Isso é treinar caráter.

Para exercermos uma boa disciplina sobre alguém precisamos disciplinar a nós mesmos. Precisamos treinar o nosso próprio caráter, removendo o egoísmo, o autoritarismo e a insensatez. Precisamos parar de usar a autoridade que nos foi dada para descontar nos outros as nossas frustrações. Assim, nossas crianças verão a disciplina como algo ainda ruim (que dói), mas não como algo injusto (que causa revolta). E, mesmo sendo doída, elas valorizarão a disciplina como algo necessário.

Autor: Lissânder Dias, é editor web na Editora Ultimato.