Dia 1: “Por que criar uma rede de proteção?”

Imagine-se dentro de um circo assistindo ao número do trapézio. Todos os trapezistas são crianças, e desde o primeiro salto, a primeira pirueta, você já prendeu a respiração. Bons shows são aqueles que transportam você para um outro mundo: o mundo da fantasia. Mas, de repente, o encanto é quebrado, pois uma das crianças não consegue agarrar as mãos do colega e despenca lá de cima em queda livre e vertiginosa.Silêncio total na plateia.

 Nesse instante, qual é a coisa mais importante do mundo? Isso mesmo, a rede de proteção, que até então você nem tinha percebido. O corpo da criança vai de encontro à malha da rede, dá algumas cambalhotas e se levanta com uma mesura. A plateia explode em suspiros e aplausos.

Como funciona uma rede de proteção à criança e ao adolescente em risco?

As propriedades de uma rede de proteção, peça fundamental em um trapézio, são semelhantes ao que precisamos formar como sociedade para proteger nossas crianças. O que faz a rede funcionar? São as centenas de laços, entrelaços e nós firmes que se estabelecem de forma que o que antes era pedaços de corda agora
funcione como uma malha flexível, porém muito forte.

Uma rede de proteção à criança precisa ser formada por todos os segmentos da sociedade. A própria lei nos lembra disso: “É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do Poder Público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária”.

Cada pedaço de corda precisa desempenhar sua função: a igreja precisa desempenhar o papel de igreja; a escola, o de escola; a família, o de família; e assim por diante. Quando um segmento não funciona, é como se uma das cordas que formam a rede apodrecesse, enfraquecendo-a. Por outro lado, cada conjunto de cordas e nós precisa estar entrelaçado aos outros.

A igreja não pode desempenhar o seu papel sozinha, isoladamente. É preciso estabelecer vários níveis de ligação com a comunidade. O apoio à família, o uso do seu patrimônio durante a semana, parcerias com escolas, a participação no processo de escolha dos conselheiros tutelares da criança e a cooperação com o poder judiciário são algumas formas de a igreja trabalhar formando essa rede.


Quando uma professora da rede pública de ensino busca a ajuda de um pastor na tentativa de resolver a situação de um aluno que está em apuros, ela está trabalhando em rede. Quando vizinhos se mobilizam para tirar uma criança das mãos de um adulto violento, eles estão trabalhando em rede.

 

Por  Elsie B. C. Gilbert
Origem: Revista Mãos Dadas. Edição 05

  

Para refletir: 

 Como podemos ajudar uma rede de proteção a crianças em risco funcionar ?