Anápolis, 1989. Subi o Morro da Capuava para orar com uma amiga. Era o ponto mais alto da cidade e um local dedicado à oração. Eu tinha um encontro marcado com a minha patroa e sabia que a conversa não seria fácil. Antes do encontro, a oração. Pedimos a Deus sabedoria e amor cristão. Eu precisava enfrentar o impacto da inflação sobre a minha renda. A inflação naquele ano chegou a 2.751%! Pior, eu não achava ético da parte da minha patroa aumentar o valor das mensalidades, o número de alunos, mas não aumentar os nossos salários como professores. No entanto, eu sabia que ela era uma mulher de fé, cujo cristianismo autêntico era evidente no seu envolvimento voluntário com crianças em risco. E, o mais importante, eu não queria romper com ela.
Ética, tema desta edição, tem tudo a ver com relacionamentos, com a forma com que tratamos uns aos outros. Há três níveis básicos de relacionamentos em uma organização: a relação com a comunidade que a sustenta, a relação com os colaboradores (funcionários ou voluntários) e o relacionamento desses com as crianças, adolescentes e famílias beneficiadas. Todas essas relações esbarram em muitas questões éticas.
Destes três níveis, a relação organização-colaborador é central, o ponto que une ou desmantela as partes. Por isso, a ênfase nesta edição: como vai esse relacionamento na sua organização? Se você é funcionário ou voluntário e deseja ver mudanças, o que pode fazer?
A minha conversa há vinte anos começou tensa, mas foi transformadora. Percebi que o nosso inimigo era maior que minha patroa e eu, que a instabilidade econômica a afetava de formas que eu nunca pensara. Ela se sentia responsável por todos os funcionários e não sabia até quando conseguiria levar adiante a empresa. Fizemos ajustes — ela no meu salário, eu nas minhas exigências. E descobri que poderia exercer o amor cristão em qualquer situação, mesmo que para tanto fosse preciso muita oração e uma boa conversa.
Bom diálogo!
De Mãos Dadas,
Autor(a): Elsie B. C. Gilbert, Editora Rede Mãos Dadas