Trabalho com crianças e adolescentes em situação de rua desde 1988. O trabalho começou com abordagem na Central do Brasil, no Rio de Janeiro, e hoje são onze casas específicas. Naquela época era evidente que a quantidade de crianças e adolescentes assassinados aumentava, e muitas vezes nos sentíamos desanimados. Fortalecia-nos, dava-nos ânimo, quando olhávamos para aqueles que conseguiam sair da escuridão, pois uma vida vale muito para Deus!
Durante dez anos morei numa casa dentro do trabalho com minha família, minha esposa e dois filhos. A casa estava sempre aberta a todos. Pensava que minha missão era nunca negar ajuda e estar sempre pronto a ajudar. Muitas vezes eu me voltava para os problemas do trabalho e esquecia a minha família. Muitas eu esquecia a minha própria saúde. Sim, eu ouvia o pastor da igreja falar sobre a importância da
família e da nossa saúde integral, mas mesmo assim pensava que eu era forte. Depois de um tempo comecei a ter muita dor de cabeça, que não passava. Eu orava e tomava remédio, e continuava no mesmo ritmo de trabalho. Em 2005 comecei a ficar mais cansado — não ia para casa descansar, e continuava no trabalho. Tinha dificuldades para me concentrar, nem escutava direto o que as pessoas falavam comigo. Durante alguns meses lutei contra essas evidências, pois achava que era preguiça. Em abril de 2005 já não agüentava mais. Já não queria ir para o trabalho, já não agüentava andar, só queria deitar e dormir. Sentia-me só e não queria falar com outras pessoas. Achei que eu era um fracassado. Certa vez estava no carro e pensei: “Será que tudo não seria mais fácil se agora eu batesse numa árvore?”. Passei minhas tarefas para outras pessoas e fiquei na minha casa. Lembro-me quando tirei alguns objetos do meu escritório do trabalho, pois sentia que era provável que nunca mais voltaria.
Fiquei um mês na cama, e pequenas coisas se tornaram muito importantes para mim. De repente ouvia os meus filhos chegando da escola, que não ouvia antes. Ouvia os risos deles, que pareciam verdadeiros presentes. E era muito importante ter tempo para ouvir as histórias deles. Comecei a entender de verdade que a obra era de Deus, que eu era apenas um colaborador. É muito importante descansar, pois Ele é quem está à frente da obra. Hoje trabalho de novo com muito ânimo, e tenho muita esperança. Trabalho mais em equipe, orando juntos e dividindo as responsabilidades. Hoje caminho…Hoje brinco, cuido melhor da minha saúde, e curto, e muito, a minha família.
Robert Smits é fundador e presidente da Associação REMER (Refúgio de Meninos(as) de Rua).