Família: não dá para terceirizar

Em 1990, quando terminei o curso superior, eu planejava seguir carreira jornalística. Ah, claro! Queria também me casar e ter filhos, mas seria uma profissional invejável, uma mãe exemplar e uma esposa perfeita.

Então conheci o Mark, missionário canadense no Brasil havia um ano, muito jovem e com um amor imenso pela obra. Vi-me diante de um dilema quando ele me pediu em casamento. O meu “sim” significava vida missionária por toda a vida. Foi uma decisão difícil, que só tomei depois de muito buscar a direção do Senhor.

Novo dilema
Hoje, sou casada com o tipo de missionário que deixa para trás a sua zona de conforto para estar onde Deus o colocar. No início, trabalhei intensamente no ministério ao seu lado. Depois vieram os filhos e, ao mesmo tempo, nossas responsabilidades no ministério aumentaram. Na minha vida foi se delineando um novo dilema.

O nosso lar estava ficando fragilizado. O ministério nos absorvia. Era difícil manter nossa visão de família. Víamo-nos como parceiros de ministério, colegas de trabalho. Só falávamos dos planos, necessidades e problemas do projeto em que estávamos envolvidos. Mas um de nós precisava voltar e assumir as bases.

Base de apoio
Atualmente, trabalhamos com a Associação Missão Resgate, engajados na prevenção, recuperação e reabilitação de adolescentes drogados. No fim do dia, às vezes depois da meia-noite, quando Mark chega em casa, ele precisa de um refúgio, um lugar que lhe ofereça as condições necessárias para recuperar as forças. Sou eu quem gerencio esta base de apoio do meu marido.

É muito difícil para um obreiro estabelecer limites e separar tempo para estar com a família, pois o trabalho missionário exige muito dele. É fácil se achar completamente absorvido pelas necessidades e negligenciar a família.

Nesta fase da nossa vida em família, é difícil para mim, como esposa, manter uma posição de auxiliadora, de gerente da base de apoio. Às vezes reclamo da falta do marido, do peso da responsabilidade de educar as nossas filhas, ainda tão pequenas e dependentes, nos caminhos do Senhor. Mas sei que esta é uma fase e que outros desafios me aguardam no futuro.

Buscando o equilíbrio
Para muitas pessoas, nem sempre é possível abrir mão do trabalho em função da família, por circunstâncias financeiras ou, até mesmo, de envolvimento com a obra missionária. Mas como maridos e esposas, pais e mães, devemos gastar tempo aos pés do Senhor, buscando sabedoria e equilíbrio para nossa vida familiar.

Meu trabalho missionário hoje é apoiar o meu marido enquanto recebo dele o apoio para desempenhar o meu papel de cooperadora… e de mãe. Estes dois são papéis que não podem ser terceirizados, ou o preço a ser pago poderá ser alto demais.

 

  • Autor(a): Cida Stuckey, é missionária da Action International Ministries e obreira da Associação Missão Resgate, em Ipatinga, MG.