Grupos de Apoio à Adoção (GAAs): transpondo as barreiras da adoção

A criança tem o direito de ser criada e educada no seio de uma família

A criança tem o direito de ser criada
e educada no seio de uma família

250 mil crianças vivem longe do convívio familiar e de nossos olhos. Elas não estão nos cruzamentos das avenidas, nem ameaçam nossa segurança pessoal. Este é o número aproximado de crianças e adolescentes que moram em abrigos no Brasil – um lugar que deveria ser apenas de passagem, mas que acaba se tornando o destino.
Eles permanecem lá por causa da dificuldade em voltarem para casa ou serem adotadas. Uma pesquisa mostra que 87% das crianças e adolescentes que vivem em abrigos possuem algum parente, mas não têm vínculos com eles. Outro dado diz que a maioria das crianças abrigadas não se adequa ao perfil procurado para adoção, que é: sexo feminino, de cor branca e de até 2 anos de idade. (1)

GAA´s
Há 15 anos nasceu um movimento com a vontade de mudar essa realidade: os Grupos de Apoio à Adoção (GAA´s). Idealizados pelo psicólogo Fernando Freire, os grupos se multiplicaram e hoje há mais de cem deles espalhados pelo país. A bandeira principal é despertar a sociedade para o direito da criança de ser criada e educada no seio de uma família (de preferência, a biológica). Para isso, eles acompanham e orientam os abrigos, fazem campanhas nas escolas, apóiam pais adotivos e interferem nas políticas públicas de adoção. “Precisamos atentar para os casos mais difíceis de adoção: das crianças mais velhas, das com necessidades especiais e das afro-descendentes”, avisa Freire.

Resultados
Segundo a assistente social da Comissão Judiciária de Adoção de Santa Catarina, Mery Ann Furtado, “os GAA’s são nossos porta-vozes na sociedade e caminham juntos com o judiciário”. No município de Mafra, por exemplo, o Grupo de Apoio, Reflexão e Respaldo à Adoção (GARRA) fundou uma casa de passagem para crianças e tem influenciado a pequena cidade de 50 mil habitantes a cuidar das crianças sem família. “É uma maneira diferente de ter um filho. É questão de amor apenas”, diz a vice-presidente do GARRA, Lindamir Kühl. Ela tem três filhos, um deles adotado.

Em Juiz de Fora (MG), o Núcleo de Apoio à Adoção ELO conseguiu reunir 16 profissionais de diversas áreas, em trabalho voluntário. “Queremos que a adoção deixe de ser um tabu”, diz Vera Souza, uma das coordenadoras. Um destes tabus – o da adoção tardia – foi quebrado, pelo menos no caso de Juliana*. Ela foi deixada pela mãe ainda bebê no abrigo, não recebia visitas de parentes há mais de 5 anos e, por lei, teria que deixar a instituição em novembro quando completará 18 anos. Mas há seis meses a enfermeira Anita* conheceu Juliana e se encantou com ela. Com a ajuda do ELO, Juliana foi adotada e finalmente ganhou uma família.

Em Belém (PA), o grupo Renascer é pequeno e está trabalhando em parceria com outras Ong’s. “Ajudamos num projeto que dá suportes a abrigos com a visita de agentes familiares”, diz a militante Rosana Barros.
O Projeto Acalanto, em Natal (RN), além de fazer visitas regulares às famílias adotivas e instituições de abrigos, criou uma outra organização somente para apoiar e acompanhar os pais que desistiram de dar seus filhos para adoção.
Mesmo sem cor religiosa, os GAA’s acabam contando com a participação de muitos cristãos comprometidos com a necessidade de cuidar das crianças sem família (Tg 1.27). Esta responsabilidade, afinal, é inspirada no fato de que nós também fomos adotados por Deus (Rm 8.15).

*Nomes fictícios 

Nota:

(1) Levantamento feito com 589 abrigos que recebem recursos do Ministério da Assistência Social (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA, 2003).

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