Toda noite, depois da aula, subíamos a avenida Universitária rumo às nossas casas, a Regina e eu. Regina estava terminando o ensino médio; eu, estudando para o vestibular. Nossas caminhadas eram pontilhadas por críticas enfáticas à realidade social do país ou por piadas geralmente contadas pela Regina. Tínhamos muito em comum, menos uma coisa: a igreja. Regina desprezava os evangélicos, parecia ter uma verdadeira alergia às nossas práticas e convenções. Sua ironia me incomodava. Comecei a orar por ela. Nunca imaginei que fosse chegar aonde chegou.
Maria Regina Bueno da Silva nasceu em Formosa, Goiás, no ano de 1963. Teve uma infância muito conturbada. Sua mãe, alcoólatra, não oferecia aos filhos um lar seguro e tranqüilo.
Depois de concluir o ensino médio, Regina foi trabalhar em um projeto social da Igreja Presbiteriana Vale do Hermon, em parceria com a Visão Mundial. Ela dava aulas de reforço para crianças carentes da Vila Santa Isabel, em Anápolis. Foi a partir do convívio com as outras monitoras que a graça irresistível de Jesus a alcançou.
A vida de Regina mudou. Ela queria compartilhar este grande achado com os outros. Investiu na família e sua irmã também se rendeu a Jesus. Lembro-me de vê-la trabalhando arduamente para melhorar a casa da mãe. Comprou jogo de sofá e geladeira. Em pouco tempo descobriu que a mãe havia vendido tudo para financiar o vício.
Sua dedicação não parou na família. Quis ser missionária. Foi treinada pela Missão Novas Tribos do Brasil e trabalhou por 5 anos com o povo indígena Pacaas Novos, em Rondônia. Há 4 anos, está em Guiné Setentrional, na África. Atualmente trabalha com os Landuma. Mora na aldeia Hamdalye e já fala a língua do povo. Conseguiu se adaptar muito bem à cultura e é muito respeitada por eles.
Regina está alfabetizando uma mulher cujo marido é um líder muçulmano. No início, ele foi contra a presença de missionários, mas, por causa da amizade com Regina, está mais tolerante. Até doou um terreno para ela plantar amendoim.
Na área da saúde, Regina atendia na base missionária. Orientava mães sobre amamentação, recomendava remédios contra as doenças da região e vacinava as crianças. Foi, então, convidada para trabalhar no posto de saúde local. Conseguiu normalizar o atendimento dos funcionários e, de moto, visita as aldeias vizinhas, fazendo vacinações. A mortalidade infantil já diminuiu por lá.
Tenho a impressão que Regina se diverte muito com o povo. E que, na sua prática diária, o social e o espiritual são inseparáveis, como o arroz e feijão brasileiros. Continuo orando por minha amiga, para que Deus a proteja e multiplique seus esforços e para que ela nunca abandone aquele sorriso matreiro.
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Autor(a): Elsie B. C. Gilbert, editora da Rede Mãos Dadas.