A Igreja Anglicana Água Viva tem muito em comum com as igrejas evangélicas espalhadas pelo Brasil afora: um templo simples, limpo e bem identificado, reuniões regulares, como escola bíblica dominical e cultos nas noites de domingo, 8 grupos de convivência (células) que se encontram nos lares durante a semana, ministérios bem organizados como equipe de louvor, grupos de dança, equipe de educação infantil, uma arrecadação mensal modesta de R$1.000,00, dois funcionários, 156 membros, 15 jovens e muitas, muitas crianças.
No entanto, há duas razões que a tornam distinta: sua localização totalmente improvável e sua insistência em praticar atos concretos de amor cristão em um dos bairros mais violentos da Grande Recife.
Que lugar é esse?
A Igreja Anglicana Água Viva fica em Aguazinha, um bairro periférico muito pobre e violento de Olinda, PE. Em média, ocorrem ali quatro homicídios por fim de semana. Seu templo fica, praticamente, dentro do Lixão de Olinda, e sua história está intimamente ligada a ele.
O Lixão é hoje um local de 8 hectares murados, onde são depositadas diariamente 172 toneladas de lixo. Quinhentas pessoas trabalham ali como catadoras de lixo. Onze guardas se revezam para fazer a segurança. Máquinas da prefeitura trabalham para fazer o redimensionamento do lixão, cobrindo-o com terra e transformando-o no que seria um aterro sanitário.
Em 2002, houve uma explosão devido ao gás que o lixo gera e que ainda não é canalizado, voando material em decomposição para todos os lados, inclusive para dentro do templo e da casa que funciona como escritório paroquial. O cheiro azedo e podre é constante e a fuligem, resultante da combustão do lixo, permeia o ar, cobrindo tudo com uma película branca. A falta de saneamento básico nas ruas adjacentes se vê pelo fio de água suja correndo permanentemente na frente de todas as casas.
Terra Santa
E lá está a Igreja Anglicana Água Viva, desafiando o ambiente com a prática diária da presença de Cristo na vida de seus fiéis.
Desde outubro de 1993, a pastora Simea de Souza Meldrum permanece fiel ao chamado de ver a glória de Deus se manifestar àquele povo. Na época, o que ela viu foi um enorme monte de lixo, sem nenhum controle público (nem muro existia). Era um local usado para jogar os corpos de pessoas “descartadas” pelo crime organizado. Cinqüenta famílias moravam dentro do lixão com seus filhos, comendo até restos de lixo hospitalar. A pastora conta que Deus lhe mostrou, em sua primeira visita ao lugar, que pisava em “terra santa!” “Deus me mostrou um monte, só que um monte de lixo. E lá via a sua glória.”
Que amor é esse?
A igreja nasceu em 1995 e, desde a sua organização, se envolve na luta pela transformação do Lixão em um aterro sanitário e em um trabalho de resgate das famílias ali presentes. Em 1997 ajudou a transferir 30 famílias, organizando mutirões para construção de casas com recursos públicos e privados. Não se cansa de fazer o bem: facilita a chegada dos serviços públicos como PSF (Programa de Saúde da Família), posto de saúde e o Agente Jovem (com 25 jovens do lixão). Mantém um grupo de ajuda a mulheres e adolescentes grávidas; o sopão para mendigos de Olinda; uma casa à beira mar para cinco crianças que estavam envolvidas com drogas ou armas e um centro estudantil com 60 crianças assistidas por estagiários da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
Os frutos são colhidos aos poucos. Oito famílias que moravam no lixão são, hoje, membros firmes da igreja. Dona Neide* representa uma dessas famílias. Ex-mãe-de-santo e trabalhadora do lixão, atualmente presenteia a todos com uma alegria perene; um milagre para uma mulher que perdeu quatro dos seus seis filhos.
* nome fictício
Quer entrar em contato com a pastora Simea Meldrum?
Escreva para simeameldrum@terra.com.br