O “problema” da compaixão

Caro Leitor,

Recebi este e-mail de minha colega de ministério:


“Querida Elsie,
Lembra-se da Virgínia? Pois é, a família voltou para casa assim que o pai dela foi preso. Prestamos depoimentos, fizemos tudo que estava ao nosso alcance para livrar as meninas daquele pedófilo. Mas hoje, seis meses depois, ele já saiu da cadeia e está de volta ao “lar, doce lar”. A Virgínia mantém as meninas na creche, mas treinou-as bem. Agora elas sabem que segredos familiares, mesmo aqueles que lhes causam dor, não podem ser revelados a ninguém. E eu, sinceramente, estou pensando em deixar tudo. Já que sou impotente para ajudar duas meninas indefesas, preferiria nem ter ficado sabendo da dura realidade que elas vivem. Ore por mim.”

O “problema” da compaixão é que ela nos torna vulneráveis ao sofrimento humano. Numa cultura em que o umbigo próprio se tornou o centro ao redor do qual giramos, não é de se admirar que a compaixão esteja tão escassa.

Se alguém está sofrendo buscamos explicações, responsabilizamos a sociedade, os familiares, a igreja e até mesmo a própria vítima pelo mal sofrido. Ou então mudamos de assunto, trocamos de canal, pulamos a página, passamos para o outro lado da rua, evitamos velórios, abreviamos nossas visitas a hospitais e asilos.

Vamos todos admitir: fazemos de tudo para evitar o sofrimento — algo natural, até certo ponto, uma vez que nossa vocação é para uma vida prazerosa na presença de Deus.
Porém uma vida sem o exercício constante da compaixão é incompatível com a fé cristã. Somos ou não somos imitadores de Cristo? Se Ele, sendo o Senhor do universo, despiu-se de sua glória para andar conosco, por que não podemos dar pelo menos alguns passos com os que sofrem?

Há tempo para tudo. Jesus soube aguardar sua hora e, por ter sido fiel até a morte, foi recebido pelo Pai com honra e glória. Não podemos esperar também a nossa vez de sermos recebidos com grande alegria e a certeza de ter cumprido o dever? (“Muito bem, servo bom e fiel, entre no gozo do seu Senhor.”)

Se o alvo é ser fiel, que venha o sofrimento, desde que com ele venham também doses suficientes da graça e da unção do Espírito para enfrentarmos as situações difíceis com fé e coragem.

De mãos dadas,

Elsie Gilbert

Autor(a): Elsie B. C. Gilbert, editora da Rede Mãos Dadas.