Oração perigosa

Há cerca de seis anos, após a apresentação de uma cantata feita por crianças de 6 a 12 anos na Igreja Presbiteriana de Viçosa, meu pai (Elben M. Lenz César, pastor emérito da IPV) foi convidado a orar. Ele expressou a sua gratidão pelas crianças que ali estavam, sua herança cristã, a beleza e a singeleza da apresentação e, como sempre faz, pediu que Deus colocasse cercas de proteção ao redor daquelas crianças que são por natureza frágeis.

Não pude concordar com a parte da oração em que ele disse: “Senhor, nós te agradecemos porque nenhuma dessas crianças é deficiente ou tem defeitos físicos graves”. Impregnada com convicções bíblicas, mas também abençoadamente contaminada com as falas de quem luta pela inclusão, critiquei suas palavras duramente, apesar de entender o que ele queria dizer (eu também sou grata por nenhum de meus filhos ter incapacidades físicas). Ele concordou com a minha crítica e apoiou esta oração/sonho que redigi recentemente:

“Senhor, obrigada porque nossa igreja tem tantas crianças com dificuldades físicas e tu nos ensinaste a acolhê-las, e também porque elas se sentem bem e à vontade em nosso meio e participam de todas as nossas atividades. Obrigada, Senhor, porque elas constantemente nos ensinam que o teu poder se aperfeiçoa na fraqueza.

Ó Deus, traz também para o nosso meio — assim como tu fizeste quando os discípulos discutiam quem seria o maior no Reino dos céus — mais crianças, especialmente aquelas que, além de sua fragilidade natural, estão em situação desvantajosa. Que os filhos desta igreja as recebam de braços abertos e de igual para igual. Que os mais velhos não se incomodem com o barulho nem com a ‘desordem’. Que os adultos não pensem só em termos práticos. Que os jovens e adolescentes saiam um pouco de si mesmos e experimentem a riqueza do mundo da criança.

Que a direção da igreja tenha uma visão e uma agenda em que as crianças estão incluídas, quem sabe, ó Deus, prioritariamente. Que os líderes compartilhem essa visão.

Não permita que nossas roupas, nossa fala, nossa agenda e nosso jeito as afastem. Que aproveitemos com a chegada dessas crianças a oportunidade de ‘encarnação’ e contextualização de que tanto falamos na área de missões transculturais.

Perdoa-nos, Senhor, porque temos quase sempre percebido a criança como receptáculo de nossos ensinamentos. Mais uma vez, revive em nós as palavras de Jesus lembrando-nos de que temos muito a aprender com elas: ‘Se alguém não se tornar como uma criança não pode ver o Reino de Deus’.

Senhor, faça com que acordemos já para o significado e o lugar dos pequenos no Reino, coisas que tu deixaste tão claras na tua Palavra. Dá-nos choro, cinzas e pano de saco diante do sofrimento de milhares de crianças neste nosso país. Desperta as igrejas do Brasil. Diante de tanta miséria a resposta da igreja tem que ser urgente e com adesão maciça.

Ó Deus, tem misericórdia de nós, que pecamos!”

 

Autor(a): Klênia Fassoni, integrante da equipe editorial da revista Mãos Dadas e diretora administrativa da Editora Ultimato.