Por que Deus me fez tão diferente?

Anson Hui é um pianista notável. Ele já estuda música no nível universitário e se apresenta em concertos e competições no Canadá e Estados Unidos. Junto com sua família ele frequenta a igreja Markham Chinese Baptist Church.

Se você tivesse o mesmo contexto de vida do Anson, você teria a mesma atitude que ele revela aqui? Anson, conte-nos sobre você…

Tenho 11 anos, sou chinês-canadense e moro em Toronto, Canadá. Albert Einstein disse uma vez que Deus não joga dados. Eu creio que a vida de toda pessoa é única e especial. Cada um de nós tem o seu propósito e a sua missão. Tudo o que os pais não querem que aconteça com seus filhos, parece que aconteceu comigo.

Certo, explique para nós a sua condição física…

Tenho glicogenose (doença de armazenamento do glicogênio). Meu fígado não consegue processar o açúcar da comida e transformá-lo em energia para o corpo. Tenho de comer sempre (bebendo amido de milho) e à noite fico ligado a uma sonda, conectada à minha gastrostomia (um tubo que foi implantado no meu estômago) para poder receber a glicose. Sou bem baixinho e cresço muito devagar. Tenho também uma barriguinha porque o meu fígado e os meus rins são maiores do que deveriam ser.

A sonda que eu uso à noite toda é como o soro de hospital, só que se conecta à minha gastrostomia (e não à veia). Antes eu perguntava para minha mãe porque as outras crianças podiam correr para o quarto dos pais numa tempestade, mas eu não. Ela sempre me respondia que eu não precisava ir a lugar algum, que ela viria me ajudar a qualquer hora que eu precisasse.

Aos 4 anos, várias avaliações disseram que eu tinha um atraso no desenvolvimento intelectual. Queriam que eu fosse para uma sala especial na escola. Minha mãe não aceitou isto e me mudou para uma escola particular. Nessa época, um médico disse que era bem provável que eu fosse autista.

Com tantos obstáculos difíceis, você se sentia só?

Às vezes sim, mas Deus colocou tantos anjos ao meu redor — pais cheios de devoção, avós que me amam de verdade, minha tia que gasta todas as suas férias comigo. Meus professores de música me adoram e me ensinam com todo o coração e alma. Meu professor de linguagem divide muito do seu conhecimento e experiência comigo. Tia Lilian ora por mim em todos os momentos desde que eu era bebê. Não me diga que isto é “sorte”… para tudo isto acontecer tem de ser arranjo muito bem organizado por você sabe quem…

Como era a sua vida na escola?

Com o meu atraso, ficou fácil para as outras crianças caçoarem de mim. Eu não conseguia me expressar de forma clara, não dizia uma frase com mais de três sílabas até os 5 anos. Algumas crianças na primeira série adoravam rir de mim, jogavam meus sapatos na neve, mexiam na minha gastrostomia e me empurravam. Mas eu não conseguia contar a ninguém. Mesmo não conseguindo falar, eu tinha um grande dom de Deus que ninguém tinha percebido ainda: a minha audição. Este dom raro é chamado de “ouvido absoluto”. É muito útil quando eu toco piano. Com a benção de Deus eu ganhei alguns prêmios em festivais de música locais e em uma competição de música nacional.

Até a segunda série, eles queriam que eu repetisse o ano. Isto era muito difícil para nós. Determinada, minha mãe me fez fazer tantos exercícios estranhos que seus amigos pediram para ela parar. Ela ficava acordada a 2 ou 3 horas da manhã todas as noites, preparando o material. E então, não se sabe como, eu fiz pergunta “Por quê?” pela primeira vez (este é um passo muito importante para uma criança autista). Com 7 anos comecei a falar melhor, e depois a falar muito! Saí da escola para estuda em casa com minha mãe faz dois anos. Graças ao meu Senhor, estou agora no 9º ano, com 11 anos. E uma nova avaliação diz que eu sou superdotado.
Então, agora eu brinco que tudo o que os pais gostariam que acontecesse com seus filhos, parece que está acontecendo comigo!

Qual é o seu sonho hoje?

Minha mãe sempre me lembra que não é bom ficar orgulhoso porque tenho um dom musical. E eu sei que foi um presente de Deus. Mas como posso dar sentido para ele? Todas as vezes, depois de 3 ou 4 horas praticando música, eu vejo esse dom de Deus e o meu trabalho se juntando. Eu consigo ouvir cada nota e som se encherem de vida e amor. Eu acho isto o máximo. Nunca sinto medo do palco quando estou em alguma competição porque eu sei que não estou sozinho. Deus está sempre ali, sentado do meu lado.

Tenho algumas complicações médicas muito sérias, e eu sei que não posso decidir muitas coisas que Deus já planejou para mim. Mas eu posso escolher trabalhar no meu sonho porque eu ainda tenho mãos e um corpo para fazer isto. Meu sonho é ser usado por Deus, para levaro seu evangelho por meio da minha música. Para que, ao final eu possa entregar um boletim cheio de boas notas para o meu Senhor, no céu, com honra. E, o que é mais importante, eu nunca vou ter nenhum remorso da minha jornada aqui na terra. Ninguém deveria ter!

 

Texto traduzido e adaptado por Elsie Gilbert.

 

Autor(a): Elsie B. C. Gilbert, editora da Rede Mãos Dadas.