Quando começamos a separar evangelismo de ação social?

A impressão de que a igreja nunca se envolveu com ação social tem apenas uma sementinha de verdade.
Até o final do século 14, o movimento cristão não tinha uma visão fragmentada da responsabilidade geral da igreja para com a sociedade. Evangelismo e trabalho de transformação do mundo não eram vistos como frentes de trabalho incompatíveis uma com a outra. A igreja sempre buscou formas práticas de aliviar o sofrimento humano desde os tempos mais remotos, como nos é relatado no livro de Atos.
Com o aparecimento do liberalismo nas igrejas norte-americanas, no início do século 20, houve uma forte reação da ala conservadora e, como conseqüência, surgiu o que ficou conhecido como fundamentalismo. Os evangélicos brasileiros são descendentes históricos das igrejas conservadoras, em sua maioria, fundamentalistas. Os fundamentalistas combateram vários erros doutrinários que as igrejas liberais iam abraçando à medida que colocavam em xeque a maneira tradicional de interpretar a Bíblia.
Entretanto, os fundamentalistas associaram a esse liberalismo uma teologia que na época vinha ganhando destaque: o chamado evangelho social. Na ânsia de combater o liberalismo, eles começaram a combater também os defensores do evangelho social e passaram a criticar severamente qualquer prática que se parecesse com aquelas defendidas pelo evangelho social. Resumindo: a ação social passou a ser vista com desconfiança no meio evangélico.
A importância do trabalho de transformação social por meio de ações práticas só começou a ser resgatada em escala mundial em 1974, quando 2.700 líderes evangélicos do mundo inteiro encontraram-se em Lausanne, na Suíça, e celebraram o Pacto de Lausanne. O curioso é que esse documento foi grandemente influenciado por teólogos latino-americanos, como René Padilla e Samuel Escobar. Os dois levaram para o congresso suas convicções de que Deus não abandonou este mundo e que ainda é sua vontade que a igreja tenha uma ação não só redentora, mas também preservadora e transformadora de tudo o que ele criou, incluindo a sociedade.

Sugestão de leitura:

Pacto de Lausanne — comentado por John Stott / Tive Fome, da ABU Editora. Pedidos:www.abub.org.br/editora