Resistência e compaixão

Dona Nadir: discurso simples, mas tocando a ferida social da aids

Dona Nadir: discurso simples, mas tocando a ferida social da aids

Como uma mãe deve enfrentar a aids do filho? Dona Nadir Salles Uliano, cristã presbiteriana, teve de responder esta pergunta no final dos anos 80, quando descobriu que seu único filho, Rafael, estava com a doença. A partir daí sua história foi resistir e superar barreiras: preconceito, falta de atendimento de saúde adequado ao filho, inexistência de medicação contra aids e ainda um câncer de intestino que a atingiu na mesma época.

Dona Nadir, no entanto, usou o recurso da compaixão. Enquanto era abençoada pelas irmãs da igreja que oravam com ela, lutou pelo filho e foi além: abriu a sua casa para acolher outros rapazes na mesma situação. Não foi possível salvar a vida de Rafael, que morreu menos de dois anos depois da descoberta da doença.

“Após a perda do filho era como se dona Nadir encontrasse força para caminhar ainda mais, […] seguia com um discurso simples, com um jeito aparentemente frágil, tocando na ferida social do conformismo, da falta de compaixão ou de solidariedade” conta Iêda Bochio, atual diretora da Casa de Assistência Filadélfia (CAF), ministério fundado por dona Nadir em 1995.

É que a partir de 1988, dona Nadir começou a acolher especialmente rapazes que haviam sido expulsos da casa dos pais por serem homossexuais e afetados pela aids. Ela dava comida, fazia cultos e orava com eles, cuidava dos ferimentos e tentava reconciliá-los com a família. O número de atendidos aumentou e o espaço de sua casa não serviu mais. A luta por um tratamento digno aos doentes era a bandeira da dona Nadir.

Hoje a CAF continua enfrentando a doença. Em São Paulo, SP, e em Trapiá, RN, atende órfãos e famílias que vivem e convivem com a aids. Dona Nadir mora no interior paulista. (L.D.)

Fonte:
BOCHIO, I.M.S. Marcos de desenvolvimento organizacional da ONG/AIDS – Casa de Assistência Filadélfia – CAF [dissertação de mestrado]. São Paulo: Faculdade de Saúde Pública da USP, 2006.

 

Autor(a): Lissânder Dias é editor web na Editora Ultimato.