Ontem, dia 16 de novembro, foi realizada a sétima edição da campanha Safeguarding Sunday, no Reino Unido. Os organizadores, a Thirtyone:eight, contaram com a participação de mais de 5000 igrejas de diferentes tradições e denominações.
A campanha incentiva as igrejas não apenas a refletir, mas também a agir para melhorar suas práticas de proteção, aprendendo com possíveis falhas do passado e buscando corrigir seus protocolos de proteção. É um momento para fortalecer o cuidado com quem já foi ferido e dar visibilidade a todo o trabalho, muitas vezes silencioso, que é feito para proteger pessoas em situação de vulnerabilidade. Entre estas, a criança e o adolescente ocupam posição de destaque.
Mas o que vem à sua mente quando você ouve a palavra “salvaguarda”?
Para muitas igrejas e ministérios no Brasil, talvez o primeiro pensamento esteja ligado à burocracia: formulários, verificação de antecedentes, manuais de regras a seguir. Esses procedimentos têm seu valor, é claro. Mas reduzir a salvaguarda a uma simples obrigação legal ou administrativa é perder de vista o que realmente importa.
A proteção dos vulneráveis não é uma política moderna que a igreja “importou” do mundo corporativo. Ela é, na verdade, um pilar central da teologia e da missão cristã. Quando olhamos para as Escrituras, percebemos que o cuidado com os vulneráveis é um mandamento divino. Jesus foi muito claro sobre isso, dando uma das advertências mais severas da Bíblia:
“Mas, se alguém fizer tropeçar um destes pequeninos que creem em mim, seria melhor que amarrasse uma pedra de moinho ao pescoço e se afogasse nas profundezas do mar.” (Mateus 18:6)
A realidade, porém, é dolorosa. A igreja, espaço que deveria ser o mais seguro, por vezes falha tragicamente em proteger. Casos de abuso e negligência continuam a acontecer repetidamente em ambientes eclesiásticos.
Por isso, é urgente olhar para a salvaguarda a partir de uma perspectiva teológica. Ela não é apenas um conceito bonito, mas uma questão vital para a fé cristã. A Teologia da Salvaguarda nos oferece uma bússola moral que vai além das regras, ancorando nossas ações no caráter e no mandamento de Deus.
Em Provérbios 31:8, lemos: “Fale em favor daqueles que não podem se defender; seja a voz dos desamparados.”
Este versículo, e o contexto que o cerca, revela três pilares essenciais para a prática da salvaguarda: o Mandato, a Motivação e a Missão.
1. O Mandato
O primeiro pilar é o Mandato, a responsabilidade de ensinar e praticar o cuidado com os vulneráveis de forma contínua, passando esse compromisso às próximas gerações.
Isso vai muito além de ensinar as crianças a “não falar com estranhos”. A salvaguarda não é apenas uma lista de proibições, mas uma atitude ativa de construção de ambientes seguros, positivos e acolhedores, onde todos possam florescer.
Com frequência, enxergamos os vulneráveis apenas como “vítimas passivas”. Mas o mandato bíblico nos chama a reconhecer sua voz e sua capacidade de participação. A proteção verdadeira não é algo que fazemos para eles, mas com eles.
2. A Motivação
O segundo pilar é a Motivação. A pergunta é: por que fazemos isso?
A resposta está na própria natureza da liderança cristã. Na Bíblia, poder e influência nunca servem ao interesse pessoal, servem para proteger e cuidar.
O Salmo 68 descreve Deus como “pai dos órfãos e defensor das viúvas”. Se esse é o coração de Deus, deve ser também o nosso.
A salvaguarda não é um item secundário na agenda da igreja, nem uma função administrativa isolada.
Ela deve ser um valor central, moldando nossas prioridades, o uso do tempo, nossas políticas e a forma como construímos comunidade.
3. A Missão
O terceiro pilar é a Missão — a forma como nossa teologia e motivação se traduzem em ação prática.
Somos chamados a falar. Isso significa defender os que não têm voz e, ainda mais importante, criar espaços onde suas próprias vozes possam ser ouvidas e respeitadas.
A fé cristã não separa o “sagrado” do “secular”. Proteger os vulneráveis também envolve engajar-se em processos legais e cívicos, garantindo que seus direitos sejam respeitados.
Isso não é menos espiritual do que orar ou pregar, é a fé colocada em prática.
Nossa missão é universal. Não podemos escolher quem proteger com base em afinidades ou preferências. Devemos tratar todas as pessoas — crianças, idosos, pessoas com deficiência, vítimas de discriminação — com a mesma dignidade, enfrentando as causas da vulnerabilidade e promovendo justiça.
A Bíblia nos dá um mandato claro, uma motivação profunda e uma missão prática.
A salvaguarda não é apenas uma boa ideia, é a expressão concreta da nossa teologia.
Como indivíduos e como igreja, precisamos nos perguntar: Nossas ações refletem o coração de Deus? Estamos criando, de fato, espaços seguros onde os “pequeninos” de Jesus possam florescer sem medo?
Nossa teologia precisa ser vivida. E isso começa pela proteção dos mais vulneráveis.
Quer se aprofundar neste tema? Visite o site thirtyoneeight.org
