Ser bom ou ser importante… uma questão de caráter

Na parede de uma instituição religiosa sediada na periferia de Recife chamou-me a atenção a seguinte frase “É muito bom ser importante, mas o mais importante é ser bom!”

A escolha íntima da busca por “ser importante” ou por “ser bom” é a base para o desenvolvimento do caráter, é um divisor de águas, um olho d’água que brota e vai ganhando afluentes até se tornar um grande rio. O querer ser bom ou o querer ser importante é como as margens daquele rio nascente, ainda um rego d’água. Essas margens determinam para que lado o rio vai correr.

Quando o bom é ser importante…
É impossível falar de caráter sem pensar na realidade política nacional: governantes que trocam os ideais pela gana de vencer; que se rendem ao antigo e batido apelo diabólico “Aqui todos agem assim. Se você quer se dar bem, não tente ser diferente!” Políticos que trocam o ser honesto pelo ser poderoso.

Quando o bom é ser importante, jogamos fora qualquer virtude (honestidade, coragem, senso de justiça, misericórdia, amor ao próximo) que se coloque entre nós e o nosso objetivo final: chegar primeiro. O fim passa a justificar os meios e nos convencemos de que a mentira, as manipulações, os pequenos desvios de conduta, são maus necessários. Eles não vão alterar a nossa natureza honesta, bem intencionada, digna. Que mentira!

Há 2.000 anos atrás, o nosso Mestre foi tentado exatamente neste mesmo ponto: o de usar métodos do Inimigo para alcançar objetivos de Deus. Resistir a essa tentação demonstra grande integridade e uma firmeza de caráter transformadora.

Quando o importante é ser bom…
Não temos o poder de nos fazermos bons. Esse trabalho cabe ao Criador. Mas temos o privilégio da escolha: o querer ser bom.

Ser bom combina com o caráter de Deus e com os seus propósitos para os seres humanos. Por isso, é bom ser bom!

Quando valorizamos o bem, ignoramos as pressões externas, evitamos manipular os resultados, e concentramos nossos esforços em acertar, em agir de forma correta, justa, solidária e humilde.

Para o bom, o mais importante não é chegar primeiro e sim chegar junto e inteiro.
Esse princípio aplica-se a todas as áreas de nossas vidas – relacionamentos, estudos, trabalho, ministério, negócios, e até no trânsito! Nesse último caso, a falta de respeito pelo próximo numa situação tão banal como se locomover de um lado para o outro leva o Brasil a números altíssimos de mortes por acidentes.

Nossas crianças e nossos adolescentes querem ser bons?
Os apelos pelo ser importante são constantes, são de massa, são onipresentes, são convincentes, são esmagadores.

Como vai a nossa pregação? Estamos vacinando nossas crianças contra essa ética do poder? Insistimos com elas que o justo viverá pela fé, que os justos são como árvores frondosas junto a correntes de água? Conseguimos ultrapassar o senso comum pessimista que justifica a corrupção ao dizer que todos são corruptos? Esforçamo-nos para mostrar a desgraça, a desonra, o final infeliz dos que praticam a injustiça?

O desafio diante de nós é imenso. Cabe a nós conduzir o maior número possível de regos d’água para caminhos que levam ao mar e não ao brejo. Está na hora de fortalecer o caráter de nossas crianças.