Uma pessoa que eu admiro

Era o ano de 1965. Minha mãe, seguindo o exemplo da avó Júlia, visitava, dominicalmente, os sanatórios e leprosários, levando o evangelho de Jesus a homens e mulheres marcados pela dor.

Foi numa dessas visitas que ela, d. Ivone, conheceu o sr. Manoel, homem pobre, tuberculoso, oriundo do norte de Minas Gerais. Ele “nasceu de novo” duas vezes naquele hospital e, quando teve alta, recebeu a advertência médica de que deveria mudar-se de sua terra natal, Almenara. O clima quente de lá não era recomendável à sua debilitada saúde. O melhor mesmo, segundo o médico, era morar em Belo Horizonte, cidade de clima temperado. Minha mãe, ao saber disso, o convidou para morar conosco.

Nova família
Numa manhã nublada, fui acordado às pressas pela minha mãe que recebia, com alegria, o sr. Manoel e família: a esposa d. Maria e as filhas Maria Lúcia, Benvinda e Cely.

O sr. Manoel morou com a gente por vários meses até conseguir emprego e moradia própria. Apegamo-nos muito a eles e, quando partiram, minha mãe pediu que Maria Lúcia, a filha mais velha, ficasse conosco.

O sr. Manoel e a d. Maria tiveram mais dois filhos: Damares e Paulo. Todos eles foram criados nos caminhos de Deus, estudaram e hoje são pessoas honradas e inseridas no mercado de trabalho. O sr. Manoel já está com o Senhor e d. Maria ainda vive em Belo Horizonte.

Exemplo de vida
E Maria Lúcia? Quando chegou em Belo Horizonte, ela mal conseguia falar. Era gaga. Nasceu “na graça e no conhecimento” de Jesus e hoje dedica a sua vida a Deus no Projeto Amar, da Mocidade Para Cristo do Brasil, que cuida de 380 crianças e adolescentes carentes de Goiânia, GO.

Deus desafiou Maria Lúcia a trabalhar com o Projeto AMAR através de um sonho. Nele, ela viu uma torneira de ouro enorme, da qual saíam poucas gotas de água para encher latas vazias trazidas por muita gente numa grande fila. Maria Lúcia gritava: “abram a torneira para que as latas se encham!”. Acordou entendendo que Deus queria usá-la para “abrir a torneira” e, assim, saciar a sede de milhares de crianças e adolescentes. Já se passaram quase 20 anos e Maria Lúcia continua obediente à “visão celestial”.

Com seu amor e dedicação, ela ganhou respeito e admiração de toda a comunidade evangélica de Goiânia. Tenho a honra de ser irmão e diretor da Maria Lúcia, pelo seu exemplo de fé e coragem. Não me considero digno de engraxar seus sapatos.

UTI
Enquanto escrevo, Maria Lúcia está internada na UTI de um hospital de Goiânia. Como seu pai, ela sofre de tuberculose, não no pulmão, mas na meninge. Estamos aflitos e pedindo por um milagre de Deus. Espero, de todo o coração, que quando você ler essa história, minha irmã já esteja de pé, curada, fazendo diferença na vida de muitas crianças. Caso contrário, ela ainda estará no hospital ou noutro lugar incomparavelmente melhor.

Agradeço a Deus pela vida de minha mãe Ivone que, com sua visão e amor, nos proporcionou essa maravilhosa história.

Em tempo:
Maria Lúcia teve morte cerebral no dia 12 de outubro de 2005 e faleceu quatro dias depois.

Autor: Marcelo Gualberto da Silva, é pastor da Igreja Presbiteriana Central e diretor executivo nacional da Mocidade Para Cristo do Brasil. É casado com Vânia e pai de Carolina, Miriã e Clarice.