Vivendo o processo da generosidade 

Vivendo o processo da generosidade 

Por Débora Vieira, psicóloga clínica e editora da Rede Mãos Dadas 

 

Você que é líder na igreja, você sabe dizer se já é realmente generoso? Alguém que, por ter recebido tanto de Deus, já aprendeu a dar com alegria também? Na verdade, ser generoso é algo que exige demais de qualquer coração. E pode ser um pouco duro de pensar, mas é importante dizermos aqui: nem todos estamos totalmente prontos para sermos generosos, sabia? Talvez possamos estar até um pouco longe disso, pois se trata de um processo, uma postura que precisa ser aprendida e desenvolvida. Algo muito elaborado que precisa de tempo para maturar. E interessante seria se soubéssemos pisar nos “degraus” dessa “escada da maturidade” sem medo, reconhecendo o nível em que estamos nesse percurso; se já sabemos/ conseguimos ser generosos ou não – e porquê. 

Dar, doar-se, sacrificar-se, sem precisar ou querer receber algo em troca, é algo que só o verdadeiro amor, desenvolvido, pode produzir. “Meio amor” não chega lá. “Meio amor” reclama, “meio amor” conta as moedas e bota tudo na ponta do lápis. “Meio amor” quer amor próprio primeiro. Porque não é amor inteiro. Não ainda. Não está pronto. Ainda precisa receber. 

E tudo bem. 

O “meio amor” tem potencial pra chegar, mas a verdade é que não está pronto ainda, está aprendendo a andar. A criança, por exemplo, é assim. Definitivamente, um bebê não consegue abrir mão da bolinha que carrega para então dá-la à criança ao lado. Às vezes até acontece por um acaso, mas ela não tem ainda estrutura física e nem emocional para repartir nesse momento, por mais sorridente e sociável que seja. Esse bebê necessita ter o que é seu, saber o que é seu. Receber atenção, cuidado, carinho, recursos. E assim, um dia, ele poderá ter repertório para transbordar do que recebeu. 

Depois de um bom tempo recebendo e maturando, a criança maior passa a ter satisfação em dar, pois já alcança que “o outro ficar feliz por algo que eu fiz” é muito recompensador. Mas esse ainda é um treino que não acontece toda hora, ela ainda precisa ter seu espaço de ganhar, de sentir o amor. É “meio amor”, mas ele está crescendo. 

Por fim, chega o tempo de interiorizar o dar como estilo de vida. Um modo de andar baseado em fé e valores. Nesse ponto a pessoa dá por alegria, mesmo não recebendo reconhecimento, recursos ou amor de volta. Ela já tem amor no estoque. Amor de sobra. Amor que transborda. E tudo bem não ter retorno – mesmo assim ela se dá. Porque tem para dar. 

Mas aqui está o pulo do gato para o coração dos líderes, que se dedicam tanto, normalmente: existe um “meio amor” que se disfarça de amor maduro. Esse “meio amor” disfarçado parece se entregar todo, sim. Mas é tanto, é tão “tudo”… que se esfola, passa do ponto. É uma entrega exagerada, na verdade. Uma entrega que carrega necessidades e carências, talvez uma busca por reconhecimento e afeto do outro – ele se dá demais, mas precisa receber algo, mesmo que não seja intencional e consciente. Porém ainda é “meio amor” e ainda requer cuidado e precisa receber.   

Percebe que existe uma escada nesse processo de generosidade? Primeiro se recebe, depois se é grato pelo que recebeu e então começa o “treino”, ora doando-se de coração e ora ainda não. Todos estamos nesse caminho, só é importante encarar onde estamos nele. E deixar ser cuidado o que precisa ser cuidado. Olhar com amor esse degrau onde o “meio amor” se encontra, e deixá-lo passar mais tempo com o Amor, aprender mais com Ele, deixá-lo curar mais. Ser mais alvo de sua generosidade para então transbordar.

“Há maior felicidade em dar do que em receber.” (Atos 20:35b) Jesus disse e é verdade. Verdade vivida pelos plenamente saciados, curados e cuidados por Ele. Não porque “merecem” esse cuidado e amor. Mas porque são, simplesmente, totalmente amados. E o estilo de vida de Jesus transborda. 



Para meditar: Hoje, em que “degrau” da “escada da maturidade de amor” você está? 

  • Você quer dar amor, mas há ressentimentos e mágoas que precisam de cura? 
  • Você quer dar amor, mas o cansaço e demandas do dia a dia sufocam suas forças? 
  • Você quer dar amor mas as injustiças têm te paralisado e você não consegue ir além? 

Medite sobre a importância do abastecimento do amor para que, a seu tempo, ele transborde e se torne realmente generoso.

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