Quando o adulto se abaixa pra brincar, sua história pisa num chão cheio de sementes
De modos diferentes, todas as organizações que compôem a Rede Mãos Dadas brincam e criam recreios porque realmente se importam em gerar leveza, mesmo quando há tanta seriedade e dor no chão da infância. Há quem trabalhe com luto, há quem trabalhe com proteção, há quem trabalhe com catástrofes… São tantas frentes! E que privilégio podermos ter essa rede brincante, criativa, cheia de recursos que florescem na mão dos pequenos! O que é esse brincar que nossos parceiros aprendem e desenvolvem para levar sua mensagem adiante de modo leve e eficaz para a infância? O que podemos aprender com eles para as nossas casas e nossas vidas?
Sabe, há um instante, quase invisível, em que o adulto se abaixa — e o mundo muda de altura. Ali, no chão, entre risadas e pequenas invenções, o tempo desacelera, o cansaço se esconde, e algo silencioso acontece: o vínculo se forma.
Brincar não é só diversão. É um dos modos mais simples e belos de dizer “eu estou aqui com você”. Sem palavras, sem pressa, só presença. Afinal, a própria Bíblia diz que “há tempo de rir… tempo de dançar. (Ec.3:4) Tempo! Quando o adulto entra na brincadeira da criança, seus olhos dizem o que nenhuma explicação alcança: “Você pode confiar. Eu te vejo. Eu te amo, mesmo errando – o jogo continua.” Esses pequenos momentos de entrega são tijolos invisíveis na construção da segurança emocional do pequeno brincante. É nessa confiança que ele vai aprendendo que pode enfrentar as dores do mundo.
O brincar é o idioma secreto da infância. É ali que ela traduz o que sente, o que teme, o que deseja. Quando o adulto aceita entrar nesse universo, ele aprende a escutar com o coração — e a responder com ternura. Não é preciso saber exatamente o que fazer. Basta estar inteiro. O brincar é um diálogo que acontece com o corpo, o olhar e o riso.
Há algo mágico quando um educador – ou um pai ou uma mãe – se permite brincar. Nesse instante, o adulto encontra a criança que um dia foi — aquela que sonhou, que esperou, que talvez tenha faltado colo. Brincar com uma criança amada é, também, acolher a própria história. É dar a si mesmo o afeto que faltou e oferecer ao outro aquilo que, um dia, você precisou. É deixar brotar uma nova semente.
Ah, os brincantes sabem que brincar não é perda de tempo! É o tempo mais bem gasto da vida! É o momento em que o amor vira gesto, em que o vínculo se renova, em que a criança cresce — e o adulto se cura um pouquinho também. Porque, no fim, o brincar é isso: um modo silencioso de dizer “eu te amo” — e de ouvir “eu confio em você.”
Mutos projetos parceiros da Rede Mãos Dadas investem nesse brincar inspirador. Aqui você pode conhecer alguns deles. Nosso convite é que você se deixe encantar: PARCEIROS MÃOS DADAS.
Por Débora Vieira, psicóloga clínica e editora da Rede Mãos Dadas
