Dia 1: “Felicidade no testemunho do discípulo”

 Segundo o Sermão do Monte (MT 5 a 7), felicidade é uma esfera da experiência humana mais significativa do que simplesmente alegria ou prazer biológico.

Mesmo diante de circunstâncias negativas, a felicidade básica do discípulo de Jesus, seu estado de ser bem-aventurado, sua condição natural de ser feliz, jamais será extinta. A felicidade está no campo do sentimento que vai além das circunstâncias e que pode, ao mesmo tempo, ser construída no nosso interior.

A felicidade do discípulo está centrada na arte de viver como luz do mundo — portanto, como quem já tem a virtude em si e, como conseqüência, já não depende da ação do outro para ser o que é. A exposição do seu testemunho é tão natural quanto o brilho da luz. O discípulo vive de forma interdependemente por amor, por decisão voluntária, mas não por depender do que os outros fazem ou dizem. Por isso, o discípulo ama até mesmo quem o odeia.

Os outros podem agir perversamente, mas mesmo assim o discípulo seleciona suas decisões e seu modo de agir. Ele ama porque é assim o seu modo de ser; tem fome e sede de justiça porque é assim a natureza de seus apetites; é pacificador porque a paz faz parte da sua essência de vida.

O prazer do discípulo é viver em abundância toda a sua humanidade, mesmo estando em um contexto de desumanos. Ele sabe que os desumanos provocam sua própria infelicidade e a de outros; mas sabe que o fazem em nome da maldade, injustiça ou, no mínimo, em nome da felicidade que não é felicidade de fato.

E como provocam a infelicidade? Em muitos casos, pelo orgulho ferido, pela gana de um prazer momentâneo, expresso no egoísmo de acumular tesouros na terra — mais do que o pão nosso de cada dia. Desse modo, quando acumulam bens em nome do prazer, provocam carência, miséria e infelicidade de muitos.

Felicidade revelada em Jesus

O discípulo ora pelo pão nosso (coletivo) e somente o de cada dia, pois reconhece que não depende somente de pão, mas de toda palavra que sai da boca de Deus (Mt 4.4). Assim, a alegria do discípulo não pode ser confundida apenas com um sentimento de prazer biológico.

A felicidade, neste caso, assume uma categoria espiritual, alimentada da Palavra, que amplia a vocação humana de fazer o bem, evidenciando-se, às vezes, até em testemunhos de renúncia do prazer, pela alegria de gerar vida para aqueles que vivem em demasiada tristeza. Assim, se alguém quer ganhar a sua vida, perdê-la-á (Mt 16.25). A alegria fascinante do discípulo é viver permanentemente centrado na essência da vida e ter como centro da vida todo o conselho de Deus.

O discípulo é feliz por condicionar o seu prazer com o bem. Realiza-se com a vida quando se percebe cumprindo a sua vocação de existir como ser humano feito à imagem e semelhança de Deus. Até aqui a ética e a moral do discípulo combinam com a dos filósofos clássicos (Platão, Aristóteles, Spinoza e Spencer).

Entretanto, mais do que alegria na visão humana, o discípulo é feliz pelo prazer de acolher a revelação a respeito de Jesus Cristo, por possuir uma felicidade que vai além, um saber nem sempre conhecido, uma fé invencível.

Por Carlos Queiroz
Origem: Revista Mãos Dadas. Edição 19

 

Para refletir: 

Você se percebe como alguém que cumpre sua vocação aos olhos de Deus?