Adoção: a doce ação – Parte 1

Adoção: a doce ação – Parte 1

Reproduzimos um trecho do livro “A doce ação – escolhendo aceitar e acolher novos desafios” escrito por Edleia Lopes. O livro traz a adoção como uma atitude simples e sábia que deve acontecer cotidianamente na vida de todos nós, é um ato que está diretamente relacionado ao encontro da paz e da verdadeira vida.

 

A arte de transformação

Por Edleia Lopes

As lembranças transitam claras e vivas em minha mente. Tão fortes que quase posso sentir o cheiro das caldas adocicadas exalando suavemente perfumes diversos pelo ar: caju, goiaba, banana, figo… Não somente a cozinha, mas a casa inteira se enchia com aqueles cheiros espetaculares de doces caseiros sendo feitos no fogão à lenha e cozidos em tachos enormes. Que delícia! Que saudade!

Na minha infância, não eram comuns chocolates, sorvetes ou tortas diversas como sobremesa. A grande pedida era um bom doce de frutas da estação. Delícias que têm se tornado cada vez mais raras nos dias de hoje.

Uma cozinha enorme!

Muitas vezes é com isso que comparo a vida. Uma grande cozinha, lugar de sabores diversos, de aromas desejáveis, de momentos marcantes e especiais. Lugar de arte.

Sim, em minha opinião essa é uma bela arte! Uma das mais especiais que conheço, que envolve sempre o delicioso processo de transformação. O alvo é transformar algo que já é bom em alguma coisa ainda melhor.

Dificilmente encontramos alguém que não se deixe encantar por essa arte, que apesar de tão comum, é também cheia de riscos e exige atenção constante. Ela requer ainda muita criatividade, flexibilidade, improviso, consciência, disciplina e uma boa dose de responsabilidade.

Por isso, acho que, muitas vezes, não a apreciamos como de fato deveríamos, pois ao saborearmos algo delicioso, dificilmente nos lembramos do processo longo e cuidadoso que a envolveu, talvez com o esforço de várias pessoas, para que o saciar dos nossos desejos se concretizasse. Normalmente dizemos apenas: Hummm!!! Que delícia!!! Mas dificilmente vamos além disso. Nada mais natural, pois se fôssemos filosofar sobre tudo de bom que degustamos ficaríamos loucos.

Se pensarmos um pouco sobre os cozinheiros, que na verdade são os grandes artistas nessa arte, vamos notar que existe uma diversidade enorme deles. Porém, nos últimos anos, um estilo específico tem me chamado a atenção: aqueles que, a despeito de toda modernidade, ainda se deliciam com as receitas cada dia mais raras. Os cozinheiros que preparam doces cítricos, por exemplo.

O que nem todos sabem é que grande parte desses doces precisam passar por um processo longo e artesanal para que fiquem de fato saborosos e desejáveis. Os meus favoritos, doces de laranja, limão e cidra, se não receberem um tratamento adequado e diferenciado, ficam simplesmente intragáveis, amargos, independentemente da quantidade de açúcar adicionado à calda. Sim, para se fazer um bom doce de frutas cítricas, há toda uma ciência, que muitas vezes pode levar dias, e que exige dedicação e técnica.

O cozinheiro consciente sabe que o preparo deve ser realizado com cuidado e total atenção. Tudo é importante, desde o delicado processo de tirar das frutas as cascas ásperas e grossas que podem influenciar negativamente no sabor, até a escolha de cada ingrediente que fará parte da receita. É necessária muita paciência para que o resultado final não seja uma grande decepção.

Quando digo que às vezes comparo a vida a uma grande cozinha, é que em muitos momentos encontro semelhança entre a arte de cozinhar e a arte de viver. Talvez porque, sob essa perspectiva, o processo de transformação que acontece em ambas, em alguns momentos é muito semelhante.

Se compararmos a culinária, por exemplo, à arte de educar, criar um filho, encontraremos alguns pontos em comum. Ambas nos remetem a uma tarefa arriscada, que exige atenção constante, e o resultado final vai depender de inúmeros fatores durante o processo. Desde a “cozinha” e seus equipamentos, até a qualidade de cada “ingrediente” que fará parte dessa mistura. Sem desprezar, é claro, a destreza e criatividade do cozinheiro.

Criar filhos é uma arte que, em minha opinião, mais se parece com o preparo de um bom doce caseiro de frutas cítricas. Não é tarefa para qualquer um, não é algo simples de se fazer. Não é uma receita que basta ser colocada na medida certa no liquidificador e levada ao forno por tempo pré-determinado, e pronto: logo está cheirando bem e mexendo como nossos sentidos. Não são do tipo de doces práticos, fáceis e rápidos, bastante desejáveis em tempos modernos, pois não demandam muito tempo e exigem muito pouco do cozinheiro.

Não. A arte de criar e amar um filho definitivamente não é uma receita comum.

E essa receita se torna ainda muito mais desafiadora quando esse filho não é biológico. É algo especial! É uma receita nobre. Daquelas que não podem ser feitas em um recipiente qualquer. Não pode ser em uma refratária, ou no forno de microondas; precisa ser preparada sem pressa, no ambiente adequado, usando os utensílios apropriados, e certamente exigirá muita técnica do “cozinheiro”.

Desejar ser pai ou mãe e se dedicar à tarefa de amar e educar um filho é algo que vem envolvido por um intrigante encanto, pois grande parte dessas pessoas tem consciência do risco real que correm ao se empenharem no preparo dessa “receita”. Sabem que o sonho cheio de doçura pode se transformar em uma amarga frustração. Mas, ainda assim, uma paixão maior as impulsiona e as estimula a se moverem com ousadia e coragem, em busca da desejada conquista.

Filhos. Biológicos ou não, serão sempre um grande e maravilhoso mistério!

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