Dia 5: “As crianças à beira do caminho – A criança é quem está à beira do caminho parte 1”

O artigo a seguir é uma adaptação da palavra do pr. Ariovaldo Ramos dirigida a 29 pessoas reunidas para o I Encontro de Educadores Sociais Cristãos, organizado por Mãos Dadas em julho de 2008.

Decidimos reproduzi-lo nesta edição porque suas palavras expressam bem a convicção dos que participam da Rede Mãos Dadas e fortalecem o nosso compromisso com Deus e com as crianças brasileiras que estão à beira do caminho.

Palavras vazias não cabem em lugar nenhum, muito menos em uma realidade como a do Brasil. A pessoa, o ser humano à beira do caminho no Brasil é, por excelência, a criança. É o pobre de modo geral, mas dos pobres a criança sofre mais com a pobreza e está em maior número.

O Estado não tem uma política que contemple, por exemplo, as necessidades de nossas criancinhas até 6 anos — 11,5 milhões delas (56% nesta faixa etária) vivem em famílias cuja renda mensal está abaixo de meio salário mínimo per capita por mês. Elas não têm seus direitos humanos básicos garantidos, vivem em situações indignas e deploráveis.

O Brasil convive com o crime organizado, que tem na criança seu alvo preferencial tanto na prestação de serviço quanto no consumo. Na prestação de serviço, porque o tráfico se utiliza da grande contradição que existe no Brasil, onde em muitos casos a lei apropriada existe, mas não é aplicada.

Por exemplo, o Estatuto da Criança e do Adolescente é excelente, mas até hoje, 18 anos depois de criado, ainda não foi implantado. O narcotráfico sabe que a criança é inimputável, não pode ser responsabilizada. Sendo assim, eles aliciam a criança para fazer o serviço sujo.

E as pessoas que querem corrigir esse estado de coisas no Brasil decidem, num rasgo de “inteligência” profunda, punir a criança!

Em vez de fazermos, como sociedade, uma devassa no judiciário, na polícia e nos institutos públicos, que estão corrompidos e corroídos até a medula, decidimos que a solução é punir a criança. Isso para resolver um problema que, sem dúvida alguma, faz da criança a maior vítima.

Quem coloca a criança à margem do caminho é o próprio Estado brasileiro. Primeiro, pela sua ausência, pois o Estado não está presente nas comunidades, nem na área de saúde, nem na de educação, e nem na prevenção ao crime. Ele chega depois, com a força da coerção, para pegar o “pé de chinelo” e fazer bonito nos jornais.

Por Ariovaldo Ramos
Origem: Revista Mãos Dadas. Edição 21

Para refletir:

Como podemos ajudar as crianças a estarem no meio do caminho?